1.7.10

Em curvas de tinta

- É só sexo - Disse ela. - Não é por isso que será pra sempre.
Ele a olhou com admiração. Não pensara no que fazer diante dessa reação. Na realidade não esperava essa reação.
Depois de três encontros, sempre muito alegres e terminados na cama. Ele pensou em avançar na relação e propôs algo mais sério. Ela continuou:
- Não é pela responsabilidade intrínseca a um relacionamento mais sério. É apenas a vontade de terminar todos os nossos encontros sob os lençóis, com muitas risadas e sem nenhuma paranóia. Está ruim?
- Não! - Ele se levantou da cama, com o lençol ainda grudado na pele suada.
Para ele seria normal, a essa altura da relação, estarem namorando. Sempre fora assim.
- Estamos falando de pele, de calor, meu querido. - Disse-lhe, passando a mão em seu rosto e beijando-o. Enquanto ele a segurava pela cintura ainda nua e a levantava. E ela, "abraçando-lhe" a cintura com as pernas, falou em tom baixo:
- Você não precisa dizer, durante o seu dia, sob a luz do sol, que sou sua namorada, para me ter de noite sob seu lençol.
Ele sorriu. Falou do desejo que ela lhe despertava. E de todos os desenhos que fez em sua mente enquanto observava sua pele suada e seu corpo em movimento. Contou-lhe sobre todas as fotos que tinha guardado em sua imaginação, dela desfilando nua pelo quarto, rindo enquanto bebia, tomando banho envolta pelo vapor da água quente.
Ela sorriu. Falou da primeira noite em que dormiram juntos e de como o olhar dele fazia ela se sentir nua. Contou que quis pular nele naquela noite, sem vergonha das pessoas ao redor. E disse como ela adorava quando tremiam-lhe as pernas cada vez que ele a fazia explodir de prazer.
E mais uma vez terminaram a discussão sobre o colchão.

Dois dias depois, ela ligou:
- Estou indo para a Espanha. Desculpe, querido.
Ele, assustado, incrédulo não aceitou. Gritou ao telefone. Ela calma, chorando e tentado não ser percebida, falou:
- Desculpe... Eu disse que não seria para sempre. Há anos planejo minha mudança e você será a maior lembrança que levo comigo.
- E os nossos lençóis? - Soluçando, ele resmungou. - Nunca mais serão testemunhas das suas pernas trêmulas?
- Infelizmente eles foram testemunhas de momentos fugazes, nossos momentos. - Agora sem conseguir conter os soluços. - Guarde minhas fotos em sua memória. Me desenhe nas suas paredes, assim como fez em sua imaginação.
Ele ouviu o telefone desligar do outro lado.

Depois de três dias escuros de quase loucura, ele levantou. Olhou para as paredes de sua casa e os pincéis substituíram suas mãos, por duas longas semanas. Ele se mudou, trocou de emprego, estudou novas idéias. Hoje respira novos ares.

A nova dona de sua antiga casa não pintou as paredes. Deixou lá os retratos de um amor que ela não conheceu. E pensa, hoje, sempre que para por vários minutos a observar os desenho nas paredes. Que sentimento é esse, que consegue pintar com tintas mundanas tais curvas sagradas? Ela não acreditava ser possível expressar com tanta perfeição, em curvas de tinta, tamanha admiração de uma pessoa por outra. Sentia inveja, no fundo sabia disso. Mas tinha uma certeza. Algo tão intenso, não poderia durar para sempre.

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