28.6.10

Quarta-feira

O dia começou devagar, assim como são todos durante a manhã. Depois de um almoço feito rapidamente sem muito cuidado e pouco nutritivo, eu fui pra frente da televisão. Então, vendo as notícias, eu soube que o dia seria no mínimo chato. E ele foi entediante com classe!
As horas vespertinas morreram lentamente, o calor era o que permanecia. Depois de uma longa espera, meu amigo chegou em casa, logo após a notícia de que não haveria aula. A decisão de ir à festa foi ponderada por horas. Já que acreditávamos que assim como o dia, a festa seria maçante.
Fomos, à pé, em quatro amigos. A frente da festa não colaborava para a nossa decisão de estar ali. Tão pouco o preço do ingresso. Depois de alguma discussão sobre algum lugar melhor e a constatação mais que óbvia de que não haveria nada aberto numa noite de quarta-feira além daquele local, entramos.
A música lá dentro não era a melhor. A festa no começo parecia prometer uma noite de arrependimento. Meus olhos passearam pelo salão, gravando várias curvas femininas, como sempre, aquelas que desenhavam gravuras no ar enquanto dançavam ficaram na memória por mais tempo. Tempo suficiente para serem apagadas pelos goles de cerveja. Aqui é importante ressalvar: nunca mais serão tantos!
Em um instante de gargalhada, em frente ao bar, ela passou pela primeira vez. Dançando! O olhar dirigido à mim foi retribuído, passou de um simples encontro de íris para algo mais sexy instantaneamente. Um breve sorriso no canto da boca e o olhar que desceu e subiu rápida e reciprocamente, confirmou ambas intenções. Ela estava de branco, uma blusa jogada sobre o corpo e uma calça jeans que contornava suas pernas de forma obra-primática. Aos pés um salto-alto preto, sobre o qual estava escrito de forma um tanto sofisticada a palavra Rock!
Após a rápida troca de olhares ela continuou seu caminho, eu, praticamente um floco de algodão que agora pairava a alguns centímetros do chão, atônito. A noite seguiu e os encontros visuais se repetiram. Sempre na mesma intensidade e no mesmo padrão. Aquilo mexia comigo como a agulha de um alfaiate cego. Depois de tantos olhares, até meu amigo se sentiu incomodado e chegou a dizer: Quer que eu te pague para ir falar com ela? Vai lá! Não foi necessário receber nenhuma quantia para que me decidisse ir falar com ela. Respirando fundo e tomando mais um gole a convidei para dançar. Ela aceitou, de uma forma estranha. Nós dançamos juntos, não por muito tempo, mas o necessário para nossa pernas se tocarem, tímidas mas intencionalmente. Dançamos o suficiente para eu saber o nome dela. Então eu praticamente me senti chutado. Ela simplesmente se afastou, deu um, dois, três passos para trás e me deixou de frente para o nada, sozinho, ali, praticamente perdido com minhas intenções. Assim, pensei, eu sabia, a noite vai ser uma merda, vou pegar outra cerveja.
No caminho para o bar pude ver as risadas de meus amigos e dei de ombros, que poderia fazer? Maior que o susto de ser deixado sem aparente razão no meio da dança, foi o susto de após alguns minutos perceber que ela continuava me olhando, me provocando, pensei eu.
A noite não esperava, as risadas aumentavam, sugerindo que a festa não se estenderia por muito mais tempo. Os amigos passavam, me cumprimentavam e ela me olhava. Quase uma hora depois, e mais uma tentativa de aproximação frustrada, onde ela me fez andar quase o salão inteiro para ter meu beijo recusado, eu pensei, desisto. Olhei para o lado. Sentada, sozinha, ela me olhava novamente.
Não sei qual o motivo exato. Mas foram necessárias três tentativas, três investidas... Talvez o número três seja uma conjunção perfeita. Três contatos físicos e eu finalmente consegui beijá-la. Por horas, antes de irmos juntos, embora. Naquela manhã de Quinta-feira.

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