7.5.16

Saudades é...




Saudade não é falta, é verbo. Saudade é sinônimo de querer, desejar, de esperar com a certeza de chegar.
A falta que vocês me fazem é maior desejo que ar sob a água, que sexo na noite. É a certeza que eu existo além de mim.
Saudade é a lembrança da juventude. Dos dias insanos. É a necessidade, necessária, do contato. Pouco, fino, distante. É o presente, com presentes e sorrisos.
É semeadura de esperança. Não... Da certeza! Não existe saudade na confirmação da ausência. Prova são os passados. Presentes etéreos, cúmplices da vontade que surge da falta. Na sustentação evanescente do que somos, reflexos de nossos antepassados.
Na caixa do coração, saudades parece lubrificante. No labirinto da razão, sabão.
Saudade é aquela areia na cueca ou calcinha, é aquele "Vem, amor, vem!" velado na horizontal. É a vontade nunca expressa!
No fim do dia, é exatamente aquilo que não falaste, que não comeste, que não ouviste. Eis tu, monstro da falta, da necessidade e do calor. Pois não há falta no frio, mas sim do frio.
Saudade é o monstro matutino! É o resto do agora que nunca teremos.
Eu não trocaria a saudade que sinto por nada, exceto por seu assassinato brutal. Violento como os dias acompanhados por ela.
Na aventura, a saudade é aquilo que te mantém em pé depois da baforada dracônica. No campo de batalha é companheira, aprendiz, tenente e algoz. Durante o dia é brilho intenso a tarde, na noite, o chamado do vazio.

28.10.10

Medo

Hoje eu acordei com medo. Sentei na cama, olhei para a parede e comecei a pensar. Eu não sentia medo há muito tempo, não me preocupava com uma nota baixa e nem esperava muito de uma segunda-feira. Mas hoje eu levantei preocupado com minha última prova e mais ainda com as provas que virão e me sinto paralisado pela semana que começa.
Estou preocupado com o futuro. É estranho dizer isso, todos nos preocupamos com o futuro. Mas eu não costumava fazer isso. Simplesmente ia vivendo, até agora. Mas as coisas mudaram.

Eu aceitei o desafio, mudei meu comportamento e isso foi bom. Comecei a ver muito mais coisas de forma diferente, de forma superior. Parecia que a cada dia eu me aproximava mais dos meus objetivos, um passo de cada vez, sem me desesperar. E parecia que ontem o medo ia passar logo eu fosse dormir. Ele não passou, ainda estou tentando entender pra que ele serve, se eu posso usá-lo como degrau ou como energia. Me preocupa ele não ter utilidade, ser frágil sob mim e ser apenas uma onde energética, daquelas que te paralisam no momento mais importante da sua vida e você consegue apenas observar as coisas acontecerem e acabarem, sem conseguir se mexer ou fazer qualquer coisa pra evitar que o melhor momento da sua vida acabe.

23.9.10

Por quê?

Por que eu não sabia? Por que você? Por que eu não pude resistir e assustado te olhei no escuro? Por que você está tão longe? Eu me pergunto, sempre assustado, tentando entender como as coisas acontecem sem me pedir permissão e sabem exatamente de que maneira devem acontecer.
Depois da revolução que me foi você, eu conto os dias, na angústia que é cada passo no meu caminho, na vontade de estar em outro lugar, na incerteza das manhãs.
Te ver, te sonhar como rotina é incrível. Você é hoje, o motivo mais concreto e a presença mais abstrata. Eu te fiz? Por que você encaixa? Tanto te quero e nem sei se te terei. Tanto me dá e nem sabes quem eu sou. Eu te fiz? Por que você encaixa?
Minha dúvida me instiga mais ainda, minha vontade louca e insensata, companheira por demais frustrada, me compele em tua direção, mesmo que eu me sinta parado. Meus pensamentos se perdem e sempre que olho pra você os reencontro. Sempre de noite, sempre de manhã, sempre nos últimos dias. Por que eu penso em você?
Eu deveria ter entendido há muito. Por quê?

13.9.10

Gifts Ungiven

- Calma! - Ela me disse. - Primeiro: Como você está? Tudo bem?
Eu acabava de perguntá-la quando poderíamos nos encontrar. Foi a primeira coisa que consegui dizer após ouvir sua voz do outro lado da linha. Quando eu estava perto dela sempre agia assim, impulsivamente. Na noite em que a conheci também. Eu a admirava sob o capuz do seu casaco listrado, seu rosto meio escondido pelo cabelo e pela sombra. Praticamente corri em sua direção, querendo saber quem ela era. E tentando segurar minha vontade de beijá-la.

- Te trouxe presente! - Falei.
- Sério? Posso adivinhar?
- Ah! Nem tente. Não vou contar.
- Sem graça.

Eu sei que nunca vou beijá-la. Que ela tem planos em que eu não estou incluído. Mas me sinto muito mais leve quando ela conversa comigo. E ela sempre me diz que gosta disso também.

2.9.10

Uma carta apaixonada

Eu acredito que é da natureza humana ser individualista. Tenho uma idéia muito particular de como lidar com essa característica do ser humano. Mas essa é uma discussão que não cabe aqui.
O ser humano, em função dessa sua característica natural, possui uma tendência a se tornar egoísta e demandar atenção. E uma das coisas que mais lhe massageia o ego é saber que alguém lhe gosta, se apaixonou ou o ama.
É por isso que vou transcrever aqui, agora, uma de várias cartas que já recebi em minha vida. Essa em específico, de uma garota, mulher, que me encantou em poucos minutos e por razões que não são bem-vindas nesse momento, me fugiu da vida.

"Junho/2007

Leo

Sei que agora não vai entender o porque dessas palavras, pois nem eu sei porque estou te escrevendo, acho que é porquê não aguentei esse sentimento de culpa me corroendo por dentro e como sei que a coragem não é uma das minhas virtudes... Então decidi escrever, enfim.
Só queria que você soubesse (acho que você já desconfia, ao menos), porquê nunca se sabe o dia de amanhã, posso não estar mais aqui pra te falar isso... Bom, falar, lá estou eu enrolando novamente.
Bom, simplesmente te falar, que quando você chegou naquela sala e ficou lá, naquele cantinho, não foi você que se encantou, como você mesmo me disse um dia, fui eu que me encantei com você, fui eu que me apaixonei por você... Simplesmente pirei a cabeça, mas infelizmente nunca tive a coragem de te expressar isso.
Só eu sei (a Rafa também - risadas) o quanto eu cheguei bem perto de ir falar com você. Mas enfim...
Tenho consciência de que posso ter te magoado, pelo fato de ter te tratado indiferentemente, mas acredite, era pura timidez. Sou tão idiota mesmo.
Bom, chega de papo, que você já deve estar cansado de ler, né?
É claro que você não vai mudar sua vida depois de ler isso, e nem deve, você está muito bem assim.
Mas só queria que você soubesse. Agora você já sabe que um dia alguém te viu diferente... Ainda te vejo!
Já tava esquecendo das contribuições que você fez na minha vida - risadas.
Por você, encontrei inspiração para continuar o curso - Economia* - (já estava pensando em desistir). Por você, entrei no grupo de pesquisa e confesso, que hoje, adoro fazer as coletas. Sem falar em Pink Floyd, que graças à você, a Rafa também me influenciou, adoro ouvir.
Bom, sei que nessa vida a gente tem que aprender a gostar de quem gosta da gente, por isso estou tentando, você está tentando, todo mundo tenta ser feliz. Desejo do fundo do peito que você seja mais do que feliz, muito mais feliz. Porquê você é um pessoa admirável, que não se encontra assim, todos os dias.

Seja feliz, cuide-se, ame!
Sandra"

O quê foi descrito na carta e a redação da própria ocorreram há algum tempo atrás. Muito aconteceu nesse espaço de tempo. Eu e a Sandra chegamos a chorar juntos (mesmo que ela não se lembre ou nem ao menos tenha percebido) e discutimos uma noite.
Nunca tive a chance de respondê-la a carta. Provavelmente farei isso, em breve.

Por várias vezes eu conversei com a minha mãe sobre como as pessoas se amam, como elas se gostam. Mas passam a vida inteira sem falarem umas para as outras. E por isso acabam por nunca saberem o quanto são queridas e o quanto realmente querem os outros.

*N. do R. Inseri o nome do curso, não presente no texto da carta.
Os nomes na carta foram alterados devido ao contexto atual.

25.8.10

Eu já fui um sonho

Eu já fui um sonho, uma vez...

No jogo da minha cabeça
As notas musicais não passam de reprovadoras
As decisões são todas influenciadas
Por alegorias da minha mente atormentada
E as razões desse jogo se confundem
Com os fundamentos ambulantes de minha vida
Seccionada pelo tempo, temerária pelo instinto

Na minha sobre-vida de humano
Tento infeliz e ferido
Parecer mais humano quanto inumano.
Real e concreto tenta ser
O ser abstrato que se ocupa de construir minha mente
Tornado-a sólida, porém ineficaz
Contra o ladrão de vida que é o tempo
Especialista maldito!!!

Real, eu sempre quis ser
Porém, imutável
Permaneço um sonho

21.8.10

Mãe

Mãe. Te devo tudo. Devo-te a honra de viver e a dor de ver que todo dia um pedaço do mundo que me deste, morre.

Mãe, minha mãe. Linda nos dias de sol e mais bela quando a chuva corre pelos vidros da janela e o frio me faz querer seu colo.

Te devo toda a minha capacidade de respeitar os diferentes olhares e perceber que não somente a minha idéia é certa. Te devo mais respeito.

Obrigado por me oportunizar a beleza desse mundo. E ser capaz de reconhecer todos aqueles que direta ou indiretamente, tornam, através de seus dias cinzas e curtos, os diferentes tons da vida menos importantes. E sou eternamente grato por ter me ensinado a evitar tais pessoas.

Mãe, devo-te tanto. Emocionalmente, financeiramente, academicamente... Te devo tanto pela minha irmã, rival por seu coração.

Sou grato, eternamente, por me deixar sorrir ao seu lado, com você, dos problemas da vida. E assim ser capaz de encará-los com maior serenidade.

Mãe, obrigado mãe!

12.8.10

Nossa noite

Eu a vi hoje.

Faziam meses desde a última vez que haviamos conversado. Ela sempre foi muito simpática, sempre me comprimentou e sempre tivemos algo sobre o que conversar.

Nossos olhos se encontraram. Os dela espantados, os meus felizes.

Eu me perguntava se algo sério havia acontecido. Até pensei em interrogar uma de nossas amigas em comum. Mas achei melhor ficar quieto, para não incomodar e não dar na cara que eu me preocupo demais com ela.

Meu coração disparou. Não esperava algo assim tão inesperado. Minha vontade era de levantar e abraçá-la. Perguntar por onde ela esteve todo esse tempo e ir embora dali junto com ela.

Não conseguia mais entrar em contato com ela. Todas as vias do cyberespaço deixaram de existir e nem meu telefonema de natal ela havia atendido.

Não prestei atenção à aula. Eu precisava olhar pra ela e ter certeza de que ela estava bem. E estava linda. Havia emagrecido, o rosto sem maquiagem, como sempre, e com riscos suaves a contrastavam da sala.

Havia desistido de entrar em contato quando ela entrou na sala hoje.

Então, após percorrer com meus olhos e libido, todas as suas curvas, eu percebi o anel em sua mão esquerda.

E depois de um sorriso, percebi o anel em sua mão esquerda.

Eu lembrei da nossa noite. Calma, sem pressa, com o coração na boca e a boca de um no outro.

3.8.10

Estranho

Ele a conheceu no trabalho. Amiga de sua irmã. Primeiro os cumprimentos costumeiros, só que dessa vez dois beijos no rosto, usual no outro estado que visitava.

- Prazer. Sua irmã sempre fala de você. Estava ansiosa pra te conhecer... Finalmente.
- O prazer é meu. Que bom, espero que ela tenha dito coisas boas de mim.

A conversa se manteve nesse rumo, com algumas piadas sobre a sua irmã, assunto em comum naquele momento, algumas discussões sobre faculdade e sobre a biblioteca onde ela trabalhava.

- Então a gente combina alguma coisa, se der tempo, antes de você ir.
- Com certeza, vamos beber alguma coisa e jogar papo fora. Até mais!

Os dias se passaram, ele passeou, continuou visitando a cidade, conhecendo pessoas novas e interessantes. Mas em toda oportunidade que teve de sentar em uma mesa de bar e tomar uma cerveja, com os amigos de sua irmã ou outros novos conhecidos, ela não pode estar junto. Sem problemas, ele pensava, era apenas mais uma garota interessante com quem tropeçava no seu caminho de descobertas.
No último dia em que ficaria por lá, finalmente conseguiram estar na mesma mesa, rodeados de pessoas conhecidas e mergulhados em risadas. Logo que ele chegou, ela sentou-se do seu lado. Perna cruzada na direção dele, gesto muito sutilmente interpretado por ele como interesse dela. Algumas cervejas e caipirinhas depois, a conversa entre os dois entrava e saía de assuntos sem maiores problemas. Ele notou a forma como ela agia e percebeu sua intenção. Primeiro ficou apreensivo em tentar beijá-la ali, em função do relacionamento com sua irmã e todo o contexto em que estavam. Mas, no fechamento do bar, enquanto todos iam embora, ele se aproximou, pegou-a pelo braço e a chamou, falou de sua intenção e ela foi sarcástica:

- Como se precisasse pedir permissão!

Ele a beijou, ela fechou os olhos, ele a seguiu. Pegou em sua cintura, em seu braços, ela parecia evitar abraçá-lo, ele continuou o beijo, mais intenso, mais molhado. Pararam para respirar, ela:

- Estranho.

1.8.10

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
-Pablo Neruda