Parte I
Ontem fui a um show. Um grupo chamado Five Points Star tocou no teatro da cidade, composto por duas mulheres e um rapaz. Entreguei meu ingresso à moça na bilheteria, uma pessoa simpática, tão calma que mesmo se o teatro explodisse ela não sairia de onde estava até que alguém a resgatasse. O teatro estava vazio, parecia que o grupo não era muito conhecido. Como eu cheguei ali? Bom, era uma noite de segunda-feira, primeiro dia das férias letivas e quando se está sozinho nessa situação você dá um jeito de fazer algo. Assim, pude escolher um assento bem próximo do palco, mas não tão próximo que eu tivesse que ficar girando a cabeça para os lados na tentativa de ver os detalhes no palco, uma ótima visão de tudo eu tive dali. Pouco tempo depois que me sentei as luzes se apagaram, olhei para os lados e na penunbra vi que o espetáculo seria para poucos. As cortinas se abriram e surgiu um piano, à frente dele estava uma menina, com os cabelos louros trançados e presos para trás da cabeça. Ela tocava o piano de forma calma, lenta e precisa. Ela usava luvas finas sem dedos, rendadas, nergas como o esmalte de suas unhas e faziam com que sua mão contrastasse maravilhosamente com as teclas do piano, cada toque parecia um suave atentado ao branco do marfim utilizado para sua fabricação. Seu vestido era tão escuro qual suas unhas e ao redor dos olhos sua maquiagem era dourada, uma obra-prima viva iniciava a apresentação. Houve um crescendo em seus acordes, acompanhado pelas luzes no limiar do palco e dos instrumentos de percussão, tocados pelo rapaz da banda de forma tão suave que pareciam não estar ali desde o começo. Ele mal aparecia devido a posição dos holofotes, era como se uma sombra trouxesse o retumbar, os estampidos e estalidos do submundo para domá-los em uma calma melodia, apenas por uma noite. Então, surgiu das mesmas sombras, executando uma nota aguda, com sua voz envolta por seus lábios vermelhos como um alçapão de lava, a terceira integrante do grupo, não era muito alta, usava um vestido dourado que nos mostrava com perfeição todo o seu desenho. Que curvas! A cada passo elas tomavam novas formas e se encaixavam em sua voz, como se ela cantasse apenas para ela, como se qualquer outra coisa no mundo apenas existisse sem lhe interferir. Seus cabelos ruivos em cachos balançavam como que vivos e seus cílios ornavam os olhos negros como uma coroa que determina uma princesa. Os braços nus, com pele clara e seu rosto desenhado por mãos de deidades a transformavam em uma lua crescente naquele palco de céu escuro.
Xeque-mate
Há 8 anos
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