No dia em que meus pais foram embora eu chorei. E prometi, logo depois das esferas azuis e esverdeadas se espatifarem no chão, que só choraria novamente quando os reencontrassem.
Nesse meio tempo chorei por ela, chorei por mim, chorei de saudades de cada rosto que cresceu comigo, mas meus lençóis continuavam secos, minha cama permanecia desarrumada.
Várias vezes vi outros chorarem. Alguns choraram de angústia, esses me pareceram afetados por alguém e mais pediam socorro do que se libertavam ao chorar; outros vi chorarem por paixões, passageiras, de anos, algumas que juravam ser eternas; vi amigos meus chorarem de alegria e cada lágrima era na verdade uma parte de sua alegria, que tentavam compartilhar comigo e com outros queridos.
E pensei, se cada vez que choramos nos desfazemos de uma parte de nós, seja ela ruim, boa, triste ou alegre, nós estamos em constante viagem, em constante passagem, seja por cidades ou pessoas. E relativamente a nós, elas também.
Eu me sinto um passageiro a cada passo do dia, a cada palavra escrita ou dita. Sempre olho pra frente e tento encontrar minha linha permanente, da qual não tenho desvio. Uma vez eu tentei enxergar mais além, tentar ver onde ela termina, em quê se transforma e antes de chegar ao seu fim eu vi uma gigantesca lágrima. Tenho medo de chegar ao fim de minha linha se for obrigado a passar por essa lágrima.
Xeque-mate
Há 8 anos
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